Jornal Cruzeiro do Sul, 27/06/2015
A preservação de mananciais, a despoluição de rios, e recuperação de cursos d"água é uma preocupação mundial. A recente crise hídrica, em que grandes centros como São Paulo viram minguar seus reservatórios localizados a dezenas de quilômetros de distância, é um indicador de que é preciso, o quanto antes, livrar os rios e córregos de poluição e dejetos para torná-los aproveitáveis para abastecimento humano.
Despoluir rios é uma tarefa difícil. Limpar bacias hidrográficas, um trabalho para gerações, mas o ponto principal é não esmorecer nessa tarefa ecologicamente fundamental. Muito já foi dito neste espaço sobre as idas e vindas do processo de despoluição do rio Sorocaba e córregos afluentes. Recentemente, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba, iniciou processo de licitação para retirar as águas servidas do córrego do Pirajibu, que corta vários bairros importantes da cidade e deságua na região do Parque Vitória Régia 2, praticamente fora da malha urbana do município, além da finalização da Estação de Tratamento de Esgotos de Aparecidinha, que está com as obras paralisadas há um bom tempo.
O tratamento de esgoto doméstico -- essencial para a limpeza dos cursos d"água -- requer um trabalho contínuo de prefeituras e autarquias de água e esgoto. As cidades brasileiras, em sua maioria, estão em constante expansão. Todos os dias surgem novos condomínios, novos bairros, loteamentos e até ocupações irregulares. A rede de escoamento sanitário e os coletores-tronco precisam chegar até esses locais, sob pena de comprometer todo o trabalho já realizado anteriormente e que direciona o esgoto para as estações de tratamento.
Além da expansão das cidades, outro fator que compromete a despoluição dos rios é a existência de redes de esgoto clandestinas, geralmente em bairros mais antigos e em áreas densamente povoadas, que despejam as águas servidas em córregos, aproveitando o escoamento de águas pluviais. Um exemplo clássico dessa situação em Sorocaba é o antigo leito do córrego Supiriri, que corta o centro da cidade. Uma rápida passada pelo local em dias de calor basta para se perceber que há desrespeito à determinação do Saae sobre a ligação correta à rede de esgoto. O cheiro fica insuportável e é causa de reclamações há anos dos moradores das imediações. Dos córregos, a água servida atinge o rio Sorocaba, comprometendo o trabalho de despoluição que custou muito trabalho e milhões de reais em investimentos. Embora seja um trabalho difícil, essas ligações clandestinas precisam ser eliminadas, se o Saae quiser limpar 100% da água do rio Sorocaba e seus afluentes. O município de Santos teve problema semelhante, com ligações clandestinas despejando esgoto nos canais que dão para a praia. Os funcionários, para identificar a origem do esgoto, percorriam os quarteirões próximos ao canal depositando corantes nos vasos sanitários das residências. Só assim conseguiram identificar a origem dos efluentes.
Na última sexta-feira, o Cruzeiro do Sul publicou a notícia de que o Ministério Público do Estado entrou na Justiça com ação civil pública contra a Prefeitura de Votorantim e a concessionária Águas de Votorantim, responsável pelo tratamento de água e esgoto do município, desde a privatização do serviço promovida pelo ex-prefeito Carlos Augusto Pivetta (PT). O motivo da ação é o lançamento de esgoto doméstico sem tratamento em um córrego que desemboca na represa Ipanema das Pedras, um dos mananciais utilizados para o abastecimento dos sorocabanos. O promotor Jorge Alberto de Oliveira Marum pede ainda, por meio de liminar, a imediata suspensão do lançamento do esgoto, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.
Alertado por moradores, o Cruzeiro denunciou o problema há dois anos. O MP também se mobilizou à época e, até agora, nenhuma medida foi tomada. Em nota, a Águas de Votorantim admite o problema mas justifica a situação dizendo que o esgoto provêm de loteamentos clandestinos. Irregulares ou não, fato é que os loteamentos estão jogando esgoto irregularmente em uma represa de abastecimento, e o problema precisa ser sanado, o mais rápido possível.
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