domingo, 21 de abril de 2019

Estudo mostra agrotóxicos na água que abastece Sorocaba

Publicado no site www.jornalcruzeiro.com.br em 19/04/2019

Do total de fertilizantes lançados próximo a mananciais, 11 estão associados a doenças

Volume de cianobactérias na represa de Itupararanga é duas vezes acima do limite

Um mapeamento feito entre 2014 e 2017 com dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, apontou a existência de 27 tipos de agrotóxicos na água que abastece Sorocaba. Do total de substâncias lançadas em plantações próximas a mananciais, 11 estão associadas ao desenvolvimento de doenças como câncer, bem como defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Além disso, no período analisado, 17 deles encontravam-se acima dos limites considerados seguros pela União Europeia.

Os dados em nível nacional, com possibilidade de pesquisa cidade a cidade, foram divulgados pelo site Por Trás do Alimento em um mapa interativo. O levantamento foi feito durante investigação realizada pela Repórter Brasil, Public Eye e Agência Pública. As informações, que são enviadas por autarquias estaduais, municipais e empresas de abastecimento, foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação em abril de 2018. “A lei brasileira determina que os fornecedores de água no Brasil são responsáveis por realizar os testes a cada seis meses e apresentar os resultados ao Governo Federal”, explica a publicação.
Os testes do Sisagua começaram a ser registrados em 7 de abril de 2014 e terminaram em 27 de dezembro de 2017. Neste período, foram 12.183 análises em Sorocaba. Dos agrotóxicos encontrados na água da cidade e que têm associação a doenças, estão o Alaclor, Atrazina, Carbendazim, Clordano, o DDT+DDD+DDE, Diuron, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Permetrina e Trifluralina.
O recorde de detecções é carregado pelo Alaclor: foram 450 identificações em 460 testes. “O herbicida está na lista da Pesticide Action Network avaliado como altamente perigoso. É classificado pela União Europeia como uma substância com evidências de causar distúrbios endócrinos, que afeta o sistema hormonal. Os sintomas da exposição ao agrotóxico são náusea, vômito e enjoo. Nos casos mais graves ocorrem colapso e coma, segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)”, cita uma das reportagens do Por Trás do Alimento.
Diante do levantamento, que pode ser acessado pelo link bit.ly/2Dhc6PD, o Cruzeiro do Sul procurou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) para ter uma posição sobre o assunto. O Saae informou que “monitora constantemente a qualidade da água dos seus mananciais através de laboratório próprio” e que “semestralmente faz análise completa através de laboratório creditado ISO IEC 17025 externo, contratado dentro das exigências legais”. A autarquia acrescentou que “todos os resultados encontrados estão dentro dos limites legais exigidos no Brasil”.

RMS

Pelo mapa, o Cruzeiro do Sul também verificou as informações dos municípios que compõem a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Todas as cidades tiveram agrotóxicos detectados na água que as abastece. As únicas que não tiveram testes identificando agrotóxicos acima dos limites seguros brasileiros e europeus foram Votorantim, Tapiraí, Salto de Pirapora, Iperó, Araçoiaba da Serra, Araçariguama e Alumínio.

Ocupação agrícola é o problema maior

Os resultados que se evidenciam nos dados do Sisagua têm relação direta com o crescimento da ocupação agrícola na Área de Proteção Ambiental (APA) Itupararanga e o consequente uso de agrotóxicos. É o que afirma ao Cruzeiro do Sul o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenador da Câmara de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), André Cordeiro Alves dos Santos.
O jornal, aliás, denunciou irregularidades na APA em várias reportagens publicadas entre o fim do mês passado e o início de abril. Em um dos textos, foi citada uma dissertação de mestrado concluída em 2017 pela bióloga Fernanda Fernandez Chinaque, para o Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Gestão da UFSCar, que escancarava a evolução da atividade agrícola e de pastagem em seis anos (de 2010 a 2016), na APA. Na tese, a partir de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a autora aponta que “a agricultura e pastagem quase que dobraram suas áreas, com um aumento superior a 90%”.
De acordo com Cordeiro, os dados divulgados pelo Sisagua não surpreendem. “Já havia desconfiança de que a contaminação por agrotóxicos existia em Itupararanga, afinal a região de Ibiúna, que é a maior porção da bacia do reservatório, é também uma das maiores produtoras de hortaliças, uma cultura que utiliza muito agrotóxico”, declara. “Além disso, o sistema de tratamento de água de Sorocaba é convencional e não dá conta de retirar esse tipo de contaminação. Só reforça o que estamos falando há algum tempo, sobre a necessidade de promover a recuperação das Áreas de Proteção Permanente e do investimento em práticas de agricultura mais sustentáveis na bacia de Itupararanga”, emenda.
A represa de Itupararanga, atualmente, é responsável por mais de 90% do abastecimento de Sorocaba, conforme o especialista. “A contribuição do (reservatório) Ipaneminha é muito pequena e foi diminuindo no decorrer dos anos, justamente em função da perda de qualidade. Depois da crise hídrica de 2014 e 2015, o (reservatório do) Éden foi interligado ao sistema, portanto, quando foram feitas as coletas Itupararanga já respondia por esse porcentual de abastecimento”, explica. (Esdras Felipe Pereira)

Volume de cianobactérias na represa de Itupararanga é duas vezes acima do limite

Publicado no site www.jornalcruzeiro.com.br em 07/04/2019

Estudo foi feito pela Cesteb e tem como base dados de 2017. Monitoramento é feito em dois pontos

Volume de cianobactérias na represa de Itupararanga é duas vezes acima do limite

No relatório Qualidade das Águas Interiores, produzido pela Cetesb em 2017, consta que a presença de cianobactérias na represa de Itupararanga, em dois pontos monitorados, estava acima do limite estabelecido pela resolução 357/05 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), órgão do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Os locais de análise são os chamados SOIT 02100 (ao lado esquerdo da Praia do Escritório, em frente a uma ilha, em Ibiúna) e SOIT 02900 (próximo à barragem, na estrada que liga Ibiúna a Votorantim).
Na edição de ontem o Cruzeiro do Sul mostrou que a ocupação agrícola nas margens da represa aumento em 90% em um período de seis anos. As cianobactérias são consequência do processo chamado de eutrofização, resultado do uso indiscriminado de fertilizantes e pela falta de saneamento básico de qualidade. Elas, que também são conhecidas por algas azuis, aumentam devido ao crescimento da concentração de nitrogênio e fósforo na represa. A situação, se não controlada, pode encarecer o tratamento da água ou até impossibilitá-lo em um futuro próximo.
O documento esclarece que o limite estabelecido pelo Conama é de 50 mil células por mililitro de água. O estudo aponta que o valor foi ultrapassado em todos os meses analisados, mas que os maiores registros são de janeiro de 2017. No ponto SOIT 02100, o número chegou a 92.590 céls/mL. O SOIT 02900 estava ainda mais preocupante, com 142.930 céls/mL.
Diante dos fatos, o Cruzeiro do Sul questionou o Conama, entre outras coisas, se era possível considerar os números preocupantes; se o órgão também era responsável por fiscalizar e autuar irregularidades em APAs espalhadas pelo Brasil; e se o órgão tem conhecimento a respeito da situação atual da APA Itupararanga. O Conama, entretanto, respondeu que “sugerimos procurar o órgão ambiental local a quem cabe a fiscalização da área sob jurisdição estadual” — no caso, a Cetesb, que já não havia respondido outras perguntas enviadas. (Esdras Felipe Pereira)

Área de 131 mil m2 é desmatada em Itupararanga e TAC não é cumprido

Publicado no site www.jornalcruzeiro.com.br em 07/04/2019

Empresa do ramo imobiliário teria de replantar 21.949 árvores de espécies nativas da região

Área de 131 mil m2 é desmatada em Itupararanga e TAC não é cumprido

Uma área de 131 mil metros quadrados (m2) inseridos na Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga foi desmatada em novembro de 2013 pela empresa de nome fantasia Speedy Imóveis Ltda. Mais de cinco anos após o crime ambiental, nenhuma medida reparadora foi cumprida. A propriedade, situada no quilômetro 67 da rodovia Bunjiro Nakao, em Ibiúna, tinha vegetação nativa de Mata Atlântica e os cortes irregulares de centenas de árvores causaram a morte de muitos animais, principalmente macacos e pássaros.

Embora a Speedy Imóveis Ltda e a FAL Pavimentação e Terraplanagem Ltda — que realizava trabalhos na área — tenham sido notificadas sobre as irregularidades e até mesmo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) tenha sido assinado com o Ministério Público, nada ocorreu na área, que agora tem mato alto e está cercada. O Ministério Público de Ibiúna não respondeu se alguma medida foi tomada diante do descumprimento do acordo.
De acordo com denúncia feita ao Ministério Público de Ibiúna no dia 5 de dezembro, pela Organização Sociedade Civil de Interesse Público SOS Itupararanga, foi solicitado à promotora Camila Teixeira Pinho a apuração “das responsabilidades a fim de que se oferecer denúncia e punição exemplar e regeneração integral dos danos ambientais causados na referida área”. A denúncia resultou em um TAC, ainda em 2013.
No documento assinado pela Speedy Imóveis Ltda com o Ministério Público, a empresa se comprometeu a fazer o replantio total da área desmatada, somando 21.949 árvores de espécies nativas da região. Ainda de acordo com o TAC, “o prazo total para a execução das medidas de recuperação seria de seis meses”, o que não foi honrado pela empresa, que usaria a área para lotear e vender centenas de terrenos. Havia ainda a possibilidade, prevista no TAC, de a empresa fazer um pedido e aguardar autorização do Departamento de Proteção dos Recursos Naturais (DPRN) para fazer a recomposição ambiental em outra área. O prazo para protocolar tal pedido era de três meses, mas também não foi solicitado pela Speedy Imóveis Ltda.
A sócia proprietária da Speedy Imóveis Ltda e da FAL Pavimentação e Terraplanagem Ltda, é Helena Regina Alam. O telefone informado pela Speedy Imóveis Ltda é de um escritório contábil chamado Contamac. Em contato com o número, foi informado que a empresa imobiliária já fez parte da carta de clientes, mas atualmente não é mais atendida. O nome de Helena Regina também aparece como sócia proprietária da Alam Compra E Venda De Imóveis Eireli. O número dessa empresa, porém, cai em outro escritório contábil, que informa desconhecer o nome da mulher.
Helena Regina Alam possui 36 processos indexados na Justiça. A advogada Noemia Aparecida Pereira Vieira, que a representou em 12 ações, afirma que Helena Regina é sua cliente apenas em processos relacionados a banco, mas não no caso envolvendo o desmatamento realizado pela Speedy Imóveis Ltda em Ibiúna. A advogada disse que tentaria localizar a cliente para que ela falasse sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.

Cronologia

No dia 24 de novembro de 2013, quando no período da manhã foi notado o corte das árvores, foi registrado um boletim de ocorrência ambiental, aplicada uma multa de R$ 2.325 e também apresentado um Termo de Embargo da Área, referente ao desmatamento de vegetação nativa em área correspondente a 775 m2. Já no dia 2 de dezembro do mesmo ano, foi registrado outro boletim, que resultou em multa de R$ 24 mil, novo Termo de Embargo e apreensão de uma escavadeira e uma máquina que operavam na área da Speedy Imóveis Ltda. Nesta ocasião a empresa tinha desmatado uma área de 4 mil m2. Por fim, no dia seguinte, mais um boletim foi registrado, com multa aplicada de R$ 380 mil, referente ao desmatamento de 120 mil m2.

Dívida Ativa

O total de multas aplicadas à empresa por conta da área desmatada de forma ilegal soma R$ 395 mil. Segundo o Centro Técnico Regional de Fiscalização VIII, da Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (CFA), a Speedy Imóveis Ltda “se encontra revel nos processos administrativos, o que fez com que os débitos de suas multas fossem incluídos no Sistema de Dívida Ativa”. De acordo com o órgão, notificações são encaminhadas à Speedy Imóveis Ltda para que as pendências ambientais sejam sanadas, mas o caso segue em aberto.
Assim como o TAC, a CFA também obriga a empresa a fazer o plantio de mudas de forma a ocupar integralmente a área de 131 mil m2. O reflorestamento da área imposto segue critérios da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) e o número de mudas que devem ser plantadas e cultivadas é determinado conforme o estágio das árvores que foram cortadas ilegalmente. A Speedy Imóveis Ltda. deve plantar as 21.949 árvores com 80 espécies diferentes, sem formar blocos homogêneos e respeitando o espaçamento de três metros por dois metros.

MP

O Ministério Público de Ibiúna foi procurado para informar se houve algum prosseguimento ou medida diante do descumprimento do TAC. Atualmente há dois promotores lotados na cidade, mas segundo a assessoria de imprensa eles não estão “concedendo entrevistas”.

Desmatamento causou a morte de animais

O danos causado pelo desmatamento irregular, segundo a diretora executiva da Ong SOS Itupararanga, Viviane Rodrigues de Oliveira, são “imensuráveis”. Ela relata que os 131 mil metros quadrados eram habitat principalmente de macacos bugios e que centenas morreram após o crime ambiental. “Com a derrubada das árvores, muitos animais começaram a atravessar a pista em busca de segurança e acabaram morrendo atropelados. Muitos macacos também morreram durante os cortes”, relata. Répteis e aves também foram vítimas da irregularidade cometida pela Speedy Imóveis Ltda.

Viviane conta que a derrubada da vegetação ocorreu rapidamente e que a empresa soterrou toda a madeira na área, para tentar fazer o desmatamento de forma que não chamasse a atenção. “Ali é uma área de muito movimento, às margens da rodovia, mas o terreno é inclinado e fica difícil ver além do que beira a estrada.” Após o desmatamento, a diretora foi até a área acompanhada de policiais ambientais e também foi constatado que a empresa soterrou uma nascente que ficava nos fundos do terreno.
O episódio de crime ambiental, relata, mexeu muito com a sociedade em Ibiúna, principalmente por conta da morte dos macacos. “Do dia para a noite a mata estava no chão e os macacos perdidos, precisando fugir.” Ela relembra que diante do desmatamento, consultou os órgãos envolvidos, como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Secretaria de Meio Ambiente, a Fundação Florestal, a Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (CFA) para verificar se havia autorização. “Quando constatamos que tudo foi irregular decidimos acionar o Ministério Público, que acabou fazendo esse Termo de Ajustamento de Conduta, que foi completamente ignorado pela empresa”, critica.

Pedido de regularização é negado

Apesar de desrespeitar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) acordado com o Ministério Público e ignorar as exigências feitas pela Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (CFA), a Speedy Imóveis Ltda já apresentou, por três vezes, pedidos para regularização da área junto à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Os pedidos foram negados.
Segundo a Cetesb, em novembro de 2014 a Speedy Imóveis Ltda protocolou a primeira solicitação de regularização da supressão da vegetação nativa realizado sem autorização, mas o pedido foi negado por falta de previsão legal. Já em fevereiro de 2017 a empresa imobiliária fez novo pedido, que foi indeferido após visita de técnicos da Cetesb que constataram a existência de Áreas de Preservação Permanente de nascentes e curso d‘água que não foram consideradas e nem quantificadas na proposta de supressão apresentada pela Speedy Imóveis Ltda.
Em janeiro do ano passado, mais uma vez a empresa tentou regularizar a situação para utilizar a área desmatada. Para receber a autorização da Cetesb é necessário autorizações emitida pela Secretaria de Meio Ambiente de Ibiúna. Segundo o secretário da pasta, Jean Marcicano, após avaliação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema), foram negados dois documento necessários para a regularização. “A Cetesb só autoriza o uso se o município emitir a manifestação ambiental e a certidão para uso de ocupação de solo e nós não vamos permitir isso enquanto a Speedy não reparar os danos que causou”, disse o secretário.
Marcicano explica que o Condema é consultivo e deliberativo e vem se posicionando de forma firme diante do desmatamento realizado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga. “Foi um caso de repercussão nacional e enquanto eu estiver à frente da pasta não vou ser conivente com o crime que foi cometido”, afirma o secretário, que é engenheiro ambiental.

Ocupação agrícola quase dobra nas margens da represa de Itupararanga



Publicado no site www.jornalcruzeiros.com.br em 06/04/2019
Estudo mostra que, em seis anos, áreas para pastagem e plantio tiveram crescimento de 90%
Uma dissertação de mestrado concluída em 2017 pela bióloga Fernanda Fernandez Chinaque, para o Programa de Pós Graduação em Sustentabilidade na Gestão da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), escancara a evolução da atividade agrícola e de pastagem em seis anos (de 2010 a 2016) na APA Itupararanga. Na tese, a partir de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a autora aponta que “a agricultura e pastagem quase que dobraram suas áreas, com um aumento superior a 90%”.
Nos registros, é possível notar os pontos em amarelo crescendo vertiginosamente entre os períodos. A ocupação urbana, representada pelos pontos em vermelho, também aumentou cerca de 25%. Com a evolução da atividade agrícola, o uso de fertilizantes é inerente e proporcional.
“Joga-se o insumo agrícola, o solo fica todo exposto e isso causa a eutrofização. As cianobactérias usam esses nutrientes dos fertilizantes para se reproduzir mais rápido”, explica Fernanda, em entrevista ao Cruzeiro do Sul. “Primeiro tem que saber se há tratamento das substâncias tóxicas produzidas pelas cianobactérias, mas a nível ecológico a gente pode dizer que diminui muito a concentração de oxigênio da água. Como forma uma camada de algas em cima da água, o sol não passa e não chega às partes mais profundas do ambiente aquático. Isso interfere em toda a cadeia e os organismos aquáticos acabam sofrendo. As consequências não são só para o consumo”, acrescenta.
No estudo, aliás, a bióloga inclui uma linha de tendência em que o Índice de Estado Trófico (IET), que mede a eutrofização, aponta que os pontos de coleta das amostras de água, SOIT 02100 (ao lado esquerdo da Praia do Escritório, em frente a uma ilha, em Ibiúna) e SOIT 02900 (próximo à barragem, na estrada que liga Ibiúna a Votorantim), possam chegar ao nível hipereutrófico, o último da escala que abriga outras cinco classes (ultraoligotrófico, oligotrófico, mesotrófico, eutrófico e supereutrófico). A linha de tendência foi criada a partir de relatórios anuais de qualidade de água, desenvolvidos pela Cetesb e analisados por Fernanda durante o mestrado. “Mas a água já está eutrofizada de qualquer jeito”, afirma.

Gestão

Com o trabalho, a profissional pôde confirmar as dificuldades do conselho gestor da APA, ligado à Fundação Florestal, órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA). “A gestão do conselho gestor não depende só do corpo técnico. Têm muitas influências externas que prejudicam: o principal ponto é ser um órgão consultivo e não deliberativo, como a Cetesb é”, argumenta. “Os loteamentos, por exemplo, passam por análise e o conselho faz um relatório, enviando para a Cetesb. Mas a Cetesb também faz análise técnica. Às vezes, no processo final, aparecem algumas coisas solicitadas pelo conselho gestor”, diz.
Além do mestrado, a bióloga teve outras experiências envolvendo a APA durante a graduação. “Eu estagiei no Comitê de Bacias e também na própria APA, com a Sandra Beu (ex-gestora da APA que faleceu em acidente em março de 2015”, conta. “Trabalhando com a Sandra, me chamou a atenção a dificuldade na gestão. E ela era uma grande gestora, batalhava, ia atrás, mas a dificuldade era enorme. A confecção dessa unidade de conservação já é meio problemática, porque fica junto a terras de propriedade privada. Fica difícil a gestão e, sem o conselho ter poder deliberativo, prejudica mais ainda”, declara.

Cetesb não responde sobre fiscalização na APA Itupararanga

Diante da repercussão da reportagem do último dia 23, com o título “Responsável por 80% do abastecimento de Sorocaba, Itupararanga dá sinais de alerta”, o Cruzeiro do Sul voltou a entrar em contato, via assessoria de imprensa, com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), um dos principais atores envolvidos no que se refere à Área de Proteção Ambiental (APA) Itupararanga. No entanto, o órgão do Governo do Estado, ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA), entre cinco perguntas enviadas, respondeu apenas uma delas.
O primeiro e-mail pedindo novas informações foi enviado no dia 25 de março. Os questionamentos eram os seguintes:
“A Cetesb possui uma equipe específica para atender questões relacionadas à APA Itupararanga (devido à complexidade dos assuntos que a envolvem e diante da extensão considerável da área)?; com que periodicidade a Cetesb fiscaliza possíveis situações irregulares na extensão da APA (como o saneamento básico inadequado, uso indiscriminado de agrotóxicos e ocupação desordenada)?; em casos de identificação de irregularidades, é estipulada multa aos responsáveis? Se sim, quanto a Cetesb arrecadou com multas nos últimos três anos? Qual a destinação da quantia arrecadada?; o Cruzeiro do Sul pode ter acesso ao último relatório da Cetesb sobre o índice de qualidade de água da represa?; em matéria publicada recentemente, especialista afirmou que, sem ações efetivas, em 10 ou 20 anos a água da represa pode tornar-se inconsumível. Diante disso, a Cetesb pretende intensificar o controle às irregularidades na APA? Como?”.
A assessoria de imprensa respondeu, em 26 de março, apenas a pergunta sobre o relatório, fornecendo um link em que constam os dados de qualidade de rios e reservatórios do Estado entre 1978 e 2017. Acrescentou que informações sobre a qualidade da represa de Itupararanga relativas a 2018 estariam disponíveis no Sistema Infoáguas a partir de 15 de abril e que o “relatório Qualidade das Águas Interiores, contendo dados da rede de monitoramento relativos a 2018, está previsto para ser publicado no primeiro semestre deste ano”.
Após a resposta, a reportagem questionou se haveria retorno às outras indagações. “Caro Esdras, creio que todas as respostas foram atendidas no momento”, enviou a assessoria de imprensa. No dia seguinte, o órgão foi perguntado se haveria possibilidade de um porta-voz falar sobre o assunto ou se poderia ser considerada a última manifestação, de que “todas as respostas foram atendidas”. Este último e-mail, porém, sequer foi respondido. Em última instância, o Cruzeiro do Sul enviou, em 2 de abril, os mesmos questionamentos via Lei de Acesso à Informação, mas a demanda ainda não foi atendida — o pedido pode ser processado em até 20 dias e prorrogado por mais 10, conforme previsto no Decreto 58.052/2012.

Prefeituras

No texto publicado em 23 de março, as prefeituras dos municípios que fazem parte da APA Itupararanga foram questionadas sobre possíveis projetos individuais de edificações aprovados desde 2015 para construção na área. Apenas Piedade e Votorantim haviam prestado esclarecimentos. As que não tinham se manifestado foram novamente procuradas, mas apenas Mairinque retornou, alegando que “no período questionado não foram solicitados alvarás de construções, sendo que apenas nos anos de 2018 e 2017, três alvarás foram solicitados para dois bairros próximos à represa, a dois quilômetros de distância”.

Represa é usada para gerar energia

A represa Itupararanga foi construída em 1912 pela Light para gerar energia elétrica e entrou em operação em 1914. Em 1974, a usina passou a ser administrada pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, onde a produção de 150 Gigawatt-hora (GWh) de energia é exclusivamente utilizada pela empresa. A Votorantim Energia conta que realiza periodicamente inspeções náutica e veicular na Área de Preservação Permanente (APP) e no reservatório de Itupararanga.
De acordo com a Votorantim Energia, a empresa utiliza a água do reservatório para geração de energia elétrica. “Atualmente utilizamos seis metros cúbicos por segundo”, informou a assessoria. No processo de geração de energia, explica a empresa, a água apenas passa pelas turbinas, sendo devolvida na sequência ao curso d’água para manutenção da vida aquática do rio Sorocaba e também para os processos de purificação para abastecer as cidades.

Preocupação

As inspeções realizadas no reservatório, segundo a Votorantim Energia, visam coibir invasões, caça e pesca predatória. “A Votorantim Energia também mantém um diálogo constante e muito próximo da gestão da Área de Preservação Ambiental, inclusive integramos o Conselho Consultivo da APA desde o ano de 2018, atendendo solicitações de informações, visitas e também com a participação regular na agenda de reuniões proposta pela entidade”, afirma em nota.
Além da participação no Conselho, a empresa também participará das discussões que serão realizadas no Comitê de Bacias Hidrográficas Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), corroborando com as ações necessárias de preservação do manancial e da APA. “Desenvolvemos ações e programas de responsabilidade socioambiental, confirmando o nosso compromisso com o meio ambiente e com as comunidades do entorno.” (Larissa Pessoa)

Ambientalistas de Votorantim tomam posse no Comitê da Bacia - 2 (atualização)

Notícia publicada no jornal Gazeta de Votorantim em 30/03/2019, pág 5

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Esgoto a céu aberto no Jardim Bandeirantes (atualização)

Notícia publicada no jornal Gazeta de Votorantim em 30/03/2019, pág 5

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Ambientalistas de Votorantim tomam posse no Comitê da Bacia (atualização)

Notícia publicada no Jornal Folha de Votorantim em 30/03/2019, pág 7

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