Editorial da Gazeta de Votorantim de 05/07/2014
Em tempos de estiagem – a
maior registrada nos últimos 80 anos no Estado de São Paulo – pesa a
preocupação da maior metrópole da América Latina com a escassez da Serra da
Cantareira em não abastecer mais de 5 milhões de pessoas. Questões ligadas
principalmente à má gestão dos sistemas de abastecimento por parte de
administradores públicos ou concessionárias repercutem tanto num plano
estadual, como também em contextos muito mais próximos que imaginamos: a
Barragem de Cubatão.
Localizada no alto da Serra
de São Francisco, a Barragem de Cubatão foi inaugurada em 07 de março de 1971
pelo então prefeito de Votorantim, Luiz do Patrocino Fernandes, o qual na época
destacou em seu discurso a importância dessa obra, principalmente quanto ao
abastecimento em épocas de estiagem. Com investimento equivalente a R$
4.000.000,00 nos dias atuais, a represa fora programada para armazenar 260
milhões de litros d’água. Já nos anos 1990 a represa abastecia os bairros da
Vila Nova Votorantim e adjacências, todavia nos dias atuais serve apenas a
chácaras e pequenas propriedades rurais em seu entorno, não abastecidas pela
Concessionária Águas de Votorantim.
Também muito utilizada para
lazer de banhistas em finais de semana, a represa foi manchete nos noticiários
no verão deste ano, quando da morte por afogamento de um jovem, cujo corpo
somente fora resgatado pelos bombeiros dias depois.
Misteriosamente ou uma
simples coincidência, após esse triste evento os moradores e visitantes
perceberam que em um curto espaço de tempo as águas que formavam a represa
simplesmente sumiram. Há apenas no local, concentrado no centro, um pequeno
volume de água. Apesar da forte estiagem, há vertentes que guarnecem o locam,
todavia ninguém consegue entender como em tão pouco tempo – pouco mais de dois
meses – uma represa seque tão rapidamente.
Apesar de haver um total
“jogo de empurra”, a responsabilidade ainda é da Municipalidade de Votorantim,
a qual peca duplamente. Por um lado, não há uma maior preocupação para com a
supervisão de seus recursos hídricos, propulsores do turismo local quando bem
geridos pelas pastas responsáveis do meio ambiente e turismo. Por outro lado,
há a total falta de mobilidade da Secretaria de Meio Ambiente quanto às ações
preventivas de manutenção dessa represa, principalmente no tocante à manutenção
do ecossistema que o circunda, responsável tanto pela vida animal, quanto
vegetal da região.
A sociedade não pode ficar
inerte a essa situação, pois afeta a todos nós. A Barragem de Cubatão
inaugurada há mais de quarenta anos foi pensada na época como um recurso alternativo
às fortes estiagens. Apesar dos recursos públicos empregados, os gestores que
se sucederam gradualmente colocaram a barragem num segundo plano, deixando-a no
estado em que se encontra. O resultado pode não ser percebido no momento, mas
futuramente poderemos sentir na boca a secura de não termos tido
administradores públicos e legisladores capazes de saciar a sede da população
por um município mais preocupado com as causas naturais de nossa Votorantim.
Apesar do problema iminente,
ainda há tempo de recuperarmos essa represa, buscando as reais causas de sua
“secura”, como também realizar um verdadeiro mapeamento dos recursos naturais
votorantinenses. Para isso é que o Plano Diretor serve: planejar as ações para
que os próximos governos deem continuidade ao desenvolvimento sustentável do
município.
Toda questão pode ser
enfrentada com eficiência quanto pensada e discutida coletivamente com a
sociedade. E é isso que todos esperam: haja vontade política e participação
popular, para que a água não precise sumir, mas esteja lá para ser protegida.
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