Em cinco anos, disponibilidade hídrica diminuiu 7% nessas bacias; já a demanda aumentou 10% no mesmo período
A
cidade de Sorocaba capta água na represa de Itupararanga para o
abastecimento de 80% dos seus mais de 600 mil habitantes - Pedro Negrão
Composta
por Sorocaba e outros 34 municípios, a região cortada pelos rios
Sorocaba e Médio Tietê já apresenta projeções de déficit hídrico, pois a
disponibilidade de água nessas reservas diminuiu 7% em cinco anos,
diante de um aumento de 10% da demanda por água no mesmo período. É o
que constatou o Relatório de Situação dos Recursos Hídricos, estudo
elaborado pelo Comitê de Bacias Hidrográficas dos rios Sorocaba e Médio
Tietê (CBH-SMT) com base nas tendências de crescimento populacional e de
aumento da atividade econômica nessas cidades.
O índice médio de vazão das reservas das bacias Sorocaba e Médio Tietê
(S-MT) - de 10,8% - é classificado como estado de atenção e coloca a
região como a terceira mais crítica dentre as 21 unidades paulistas de
gestão de recursos hídricos, ficando atrás apenas das bacias do Alto
Tietê e dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
"Se continuarmos nesse ritmo, em breve teremos problemas graves de falta
de água", alerta Rosângela Aparecida César, representante da Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) no CBH-SMT. Realizado com
dados oficiais deste órgão e do Departamento de Águas e Energia Elétrica
(Daae), o estudo considera a necessidade diária de 100 a 150 litros de
água por habitante, além do número de outorgas de uso da água pela
indústria, agronegócio e abastecimento público.
O documento aponta que as cidades com maior demanda total do recurso são Sorocaba, Itu, Tatuí, Cerquilho e Botucatu - a soma desses cinco municípios equivale a 64,5% da necessidade regional. Destes municípios, o único que não faz parte dos mais populosos é Cerquilho.
Racionamento
Rosângela lembra ainda que Itu, classificada como uma das cidades com maior déficit hídrico da região, já enfrentou situação de racionamento de água no último verão, quando cinco dos seus reservatórios operaram com apenas 10% de sua capacidade e o último secou completamente.
Apesar de não estimar até quando haverá água disponível nessas bacias,
já que prevê medidas para amenizar a situação, o estudo mostra que a
relação entre a demanda estimada e a realizada nos 35 municípios já se
aproxima a uma média de 95%, chegando ao limite do uso do recurso nas
reservas do S-MT. A necessidade urbana de água destaca-se em relação a
outros usos, e as cidades com maior demanda para este segmento são
Sorocaba, Itu, Tatuí, Botucatu e Votorantim, equivalendo a 84% do total
regional.
Governador
Segundo o governador Geraldo Alckmin, que esteve ontem em Itu, as
cidades que não são abastecidas pela Sabesp contarão com o apoio do
governo do Estado, embora ele não tenha ressaltado de que maneira isso
ocorrerá. O governador afirmou que o Estado está estimulando o uso
racional da água, dando prêmios para quem reduzir o consumo.
Em São Paulo, a medida teve 76% de aderência do público. Também se adotou a oneração maior do uso da água para quem aumentou o consumo. O governador falou de investimentos no sistema Cantareira. Destacou o aumento no número de reservatórios: dois em Campinas, além de Jaguariúna e Pedreira.
Setor industrial
A segunda maior demanda é da indústria, com 78% do recurso desse setor
destinado a Cerquilho, Sorocaba, Boituva, Araçariguama e Itu. A
quantidade de água direcionada para o setor rural é a terceira maior,
sendo que 77% do seu total são para Tatuí, Botucatu, Anhembi, Piedade e
Salto de Pirapora.
"Por conta da falta de água na capital, as indústrias estão migrando
para o interior", analisa Rosângela. Apesar do impacto nos recursos
hídricos causados com isso, a representante do comitê considera que
trata-se de uma atividade essencial para a economia e cabe aos gestores
controlar o uso da água. "É necessário a avaliação de quanto e onde pode
ser retirado das reservas", comenta.
Um exemplo é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será
instalado até 2018 em Iperó e usará a água do rio Sorocaba para dissipar
o calor gerado em sua torre de refrigeração. No projeto da instalação
estão previstas a retirada de 30 litros de água por segundo e a
devolução à natureza de 20,3% do material captado, sem danos ao meio
ambiente.
Medidas de controle
Como se trata de um bem finito, a manutenção da produção da água depende
da proteção de suas nascentes e reservas, o que inclui a preservação
dessas áreas contra o avanço da urbanização, o tratamento do esgoto
devolvido à natureza e metas de despoluição. "A cabeceira dos rios fica
em regiões rurais, que sofrem forte pressão do setor imobiliário
interessado em explorá-las", justifica Rosângela. Para tanto, o comitê
estuda novas ações a fim de mudar as projeções negativas de
disponibilidade de água nos rios Sorocaba e Médio Tietê. (Colaborou Anderson Oliveira)
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